quinta-feira, 20 de março de 2014

Fumaça e vapor

Eram duas nuvens. Uma era fumaça, outra era vapor. A primeira vinha dum cigarro mal fumado, a segunda duma chaleira de porcelana. Encontraram-se casualmente, numa sexta bagunçada. A princípio não sabiam bem o que fazer, o chá e o tabaco também ainda estavam confusos, sem entender o que acontecia.
Numa dança leve, descontraída, depois de alguns dias, se comunicavam sem som. Aos poucos e imperceptivelmente se misturavam. O doce aroma do vapor de chá, simples, fresco, vívido e novo, mas com ares de antiquíssimo. A amarga baforada de fumaça, poluída, seca, vivida, angustiadamente triste, mas rebelde, dançante e inconstante. Os dois se viram iguais. Fluidos, aéreos, livres. Apenas se observavam, e se entrelaçavam, sem saber que dali se tornariam uma só nuvem amena, que permaneceria no alto da sala, suavemente alheia dos outros.

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