quarta-feira, 24 de julho de 2013

Musiquinha

Uma música baixinha ecoa
Notas há muito esquecidas
Algumas que eu mal sabia que existiam.
Uma melodia com cheiro de flores e sabor doce
Com cor de purpurina e enfeitada com balões coloridos
Num quarto branco e iluminado
Sozinha eu a ouço.
Tons delicados de anil discretamente preenchem o teto do cômodo
E eu quase via o céu


O ritmo me convida para dançar
Ah... E é como se eu fosse tão graciosa quanto esses pássaros
Que voam e cantam alegres, junto com a melodia crescente
Depois de rodopios e passos meio bobos
Respiro ofegante, mas não estou mais cansada
Meus pés diziam adeus ao chão
Minha mente sobrevoava o quarto
E eu quase tocava o céu


Abri uma cortina e percebi flores bordadas
Procurei a origem da música
Examinei gavetas antigas
Prateleiras empoeiradas
Guarda-roupas quebrados
Mas todos os lugares que eu havia procurado
Estavam vazios.
Foi aí que sem querer eu a achei
Escondidinha, atrás de rachaduras do meu peito
Uma pequena e delicada caixinha de música
Ela tocava tímida, mas vibrante
A melodia do meu coração.

Julieta

E docemente, como chocolate, abriu um sorriso que eu poderia morder.


Surpreendeu-me como me cativastes cedo e sem ao menos conhecer-te bem. Se não existia amor ao primeiro ver, agora existe. E as fagulhas que teus olhos expeliam tocaram incandescentes na minha pele, se tal fogo antes queimava, agora só aquece. E mal notei que minha pele descascava, que eu me tornava vulnerável, e ao segundo toque de teu olhar, quase não suportei, por que não era comigo que você estava naquele dia.
Já acostumada a não me deixar cativar, via todas as pessoas mais de longe, a uma distância segura, certa de que sozinha, dentro da minha fortaleza, tudo iria funcionar como o planejado, mas dessa distância eu te vi, e percebi que precisava de ti tão mais perto.


P.S.: Eu não ia postar esse pequeno texto, mas é que sei lá sabe.

domingo, 21 de julho de 2013

Um doce presente feito de ouro.

Um dia, andando pelas ruas da noite, em um caminho meio que distante de tudo aquilo que algum dia eu já andei, encontrei você.  Estranha, desengonçada, engraçada e ao mesmo tempo meiga, mas nada que fosse alguma coisa para os meus olhos naquele momento.  O conhecido desconhecido,  o alguém que estava lá mas ao mesmo tempo não estava, como um personagem coadjuvante em um emaranhado de estórias paralelas da minha vida, como todos aqueles que me cercavam de alguma forma... Praticamente inofensiva.
Após o dia, conversas foram, conversas vieram ; risos, abraços, problemas compartilhados, medos expostos, uma gotícula de vida transbordando diante de um breve encontro impessoal.  E para todos os meus pré-conceitos e idéias, tudo se mostrou tão... tão... humano.
Você aparenta ser promiscua, alguém não tão importante, mas tudo me erra nesse principio. O lado por trás da mortalha de tal papel vivido para os demais, existe alguém que sangra, e esse alguém está cheio de tesouros, uma vida de cicatrizes, de erros e acertos, mas uma vida que não tem a intenção de emergir para ninguém. A vida de alguém que desperta o meu interesse, me faz refletir, que me faz revisitar a minha própria, e relembrar aquilo que sempre prometi: ver além de tudo...
Não sei se me perco em devaneio e subjetividade, ou se retorno e digo as coisas cruas, mas um eu lírico ou simplesmente o eu do passado, pede um pouco de essência, para alguém com tão pouco revelado mais um mar a ser desbravado. Enxergar como um empreendedor de sonhos que esse diamante tem muito o quê ser extraído; riquezas que não servirão para ninguém, a não ser para você mesma, e de mim, só teria a alegria de observar, nem q seja de longe, essas maravilhas que podem surgir.
E tudo tão imenso, que tenho medo de dizer e não ser compreendido corretamente, por que as palavras podem pecar, mas a sensibilidade fala outra língua, como um fluxo intuitivo continuo de que, tudo o que você pode ser, será mil vezes melhor, só depende de você.

Todas as ruas e sonhos, todos os encontros e desencontros, estar aqui, só servem para me dizer que, uma amiga, ou melhor, uma pessoa, com um enorme potencial, não pode ser, simplesmente ou praticamente inofensiva; praticamente inofensiva.

Autoria: Emerson Maciel.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Fim de Amor

Carregada de emoções, com os pulsos judiados. Corria naquele corredor há horas. Um passo a cada hora. Delicadamente arrancava da boca a lembrança do beijo daquele menino. Lentamente apressava-se até o final daquele corredor. A porta parecia querer abraçá-la, embalar a doce donzela por mais algumas horas dolorosas. Impaciente, o silêncio gritava por ação. Ela esperava as horas terminarem, remoendo e removendo a cor dos esmaltes com os dentes. Do minuto, ela sentia um ano coçando sua coluna. E a maçaneta pedia a mão da moça em casamento. A moça poderia aceitar se a maçaneta pudesse vestir uma roupa bonita. O gemer prazeroso da porta indicava que a saída seria melhor que o esperado. O doce raio de sol cresceu dentro dos olhos da menina. Aceitou seu trágico destino de não ser amada e arrumou as malas. O vento soprou-a para outro universo onde poderia manter o esmalte na unha intacto.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Precisado

Eu precisava de mais um gole amargo do vinho barato.
Eu precisava de mais uma dose intragável daquela pinga incolor.
Precisava dum pedaço daquele pão dormido
Duma tragada daquele cachimbo
Dum beijo do garçom
Precisava do algo mais debruçado na mesa redonda
Eu precisava daqueles panos sujos
Eu precisava me limpar os vômitos
Precisava catar os queijos do esgoto
Comê-los, deliciar-me
Precisava de uma cédula
De um corpo retirar algum dinheiro
De uma arma, arranjar um corpo
Daí então retirar o algum
E ao garçom pedir mais uma rodada daquilo
Daquilo que nem sei mais o nome
Mas de todos aquilos, parecia ter o melhor sabor.


A visão começou a tresloucar
Sussurraram três tiros
Na pele, o sangue nem queria escorrer
O sorriso deu uma risada
Fechou-se a conta
Quantas doses de bebidas amargas pagam meu erro?
Alguém gritou uma prece
Não rezem perto de mim.
Precisava agora de novo daqueles panos sujos
Precisava do algum
Alguém chame um médico!
Desculpe, garçom, foi bom enquanto durou
Mas meu coração foi atingido
Oh, você não é meu garçom
Não me aperte assim,
O que você está fazendo?
Garçom?
Mova-me, mas não queira me retirar.


Trocaram-me a blusa
A estampa rubra formava-se
Numa veste semelhante à minha
Contudo, trocaram-me
Pouco tempo depois a luz pálida cegou-me
Chegou-me meia-noção
De fato, a blusa era minha.


Soantemente o delicado barulho da vida irritava-me
Os bipes gritavam na minha enxaqueca
A ressaca entorpecida com alguns tubos engraçados
Estendido estava lá eu
Taciturno, semi-vivo
Mil homens banhados de luz
Estendiam ao meu peito bisturis e agulhas
Entendiam o meu coração, será?
Quase lembro-me da sensação
Era como se apaixonar
Que droga.