quinta-feira, 30 de maio de 2013

A Equilibrista

Ela se apressava, precisava recolher todos os pedaços antes que alguém notasse. Estava toda quebrada, mas precisava se recompor, passar um batom, um blush, dizer que está tudo bem, que não havia passado a noite chorando.
Eu não passei a noite chorando. - ela repetia para si, esperando acreditar na própria mentira. Precisava entrar no personagem, o picadeiro a esperava. De longe ouvia a música começar, as risadas, os gritos de euforia. E havia ainda tantos pedaços no chão.
Ela segurava as partes de si, mas elas caíam mais e mais. Jogou tudo em cima da cama, desapareceu dentro do guarda-roupa. Se eu usar uma roupa grande, ninguém percebe. - pensou. Achou um vestido longo e pomposo. E daí se ela parecia uma louca dentro daquilo? O importante era que o show continuasse, ela não poderia estragar tudo.
Procurou o batom mais chamativo, colocou os cílios postiços, calçou a sapatilha, passou blush, repetiu seu mantra mais algumas vezes.
Guardou seus pedaços em cima da cama, deixou-os enrolados no lençol. Abriu um sorriso, talvez o mais feio que já havia sorrido, ela não se sentia sorrir, mas deixou seus dentes brancos à mostra mesmo assim. Correu para o seu local, seu show seria o próximo.
Enquanto ela desfilava sua beleza e equilibrava-se na corda bamba, debaixo da cama, perdido, algo pulsava. Ela havia esquecido uma parte. Ela havia se esquecido de seu coração.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Riminha boba sem título

Beijo teu pescoço
Que é?
Sussurras sem notar
Quase não te ouço
Quer mais um cafuné?
Deixa eu te acarinhar

Dorme bem, moço
Quando acordar te faço o café
E amor, se precisar.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Essência de ti

Esse é o teu cheiro
Aconchego-me nele, como se fosse em ti
Abraço-o forte
Sinto-o perto
Espero dissipar
Mas ele não sai mais de mim
Agarrou minha pele
Embrenhou-se em minhas madeixas
Fez morada no meu coração
Apossou-se dos meus lábios
Fez meus olhos cegos
Meus ouvidos surdos
Meu sexo exclusivo
E virou dono de todos os meus sorrisos.

domingo, 26 de maio de 2013

Celeste

Era um dia ensolarado. Bastante ensolarado, de fato. Era aquele típico dia em que todo mundo não quer sair de casa, mas precisa. Uma típica segunda-feira de sol.
Havia esse garoto na rua, seu nome talvez rimasse com pão, algodão-doce ou pé-de-moleque, mas infelizmente seu nome não importa, por que para a maioria das pessoas ele é sem nome. Ele talvez brincasse no asfalto quente, ou descansasse, ou planejasse roubar o croissant que encontrava-se em cima de uma mesinha a não mais de 2 metros de distância dele. Ou talvez só observasse o nada atentamente, mesmo.
Nada além do típico.
Ah, claro. Tirando aquela - talvez não-típica, mas não dou certeza, afinal, também sou um sem nome - baleia no céu.
Ops, perdoem-me o erro, - não esqueçam que eu não tenho nome, esses errinhos sempre acontecem, bem típico. - não era realmente uma baleia... Estava mais para um golfinho.

- Mas orcas são baleias! Baleias-assasinas! - Vocês dirão.
Estúpidos! Burros! IGNORANTES!
“A orca (Orcinus orca), é o membro de maior porte da família dos golfinhos (Delphinidae, ordem dos cetáceos) e um superpredador versátil, que inclui na sua dieta presas como peixes, moluscos, aves, tartarugas, focas, tubarões e animais de tamanho maior quando caçam em grupo, como por exemplo baleias.A designação "baleia-assassina" não é a mais correcta por ser uma tradução directa do inglês "killer whale", e pelo facto de o animal não ser uma baleia.”
Até nosso amigo Wikialgumacoisa sabe disso.

Havia uma moça sentada numa lanchonete também. Ela comia um croissant delicioso e evitava olhar à sua esquerda, como geralmente fazia - onde coincidentemente havia um garoto sentado na calçada. - Ela também evitava olhar o garçom, pois - obviamente - ele queria ficar com ela e ele - evidentemente - não era bom o suficiente para ela. Evitava também balançar o pé repetidamente de um lado para o outro, pois sua mãe dizia que tal cacoete era coisa de gente velha - coisa que ela não queria ser, de maneira alguma. - Assim como evitava olhar o céu. Só por evitar mesmo.
O que é mesmo uma pena, estava perdendo um grande show. A orca dançava no ar como se nadasse no mar, ela sorria. - Sei que orcas não sorriem, mas sejam gentis, esta orca com certeza estava feliz. - Até perceber que ninguém a havia percebido.
Havia um rapaz, ainda, atrás de um balcão numa lanchonete. Ele vestia um bonito uniforme preto e branco, ele adorava essa combinação. Uniformes de garçom estavam in neste verão. Ele gostava muito de rosa, mas não gostava de usar roupas rosas. - Ou talvez só tivesse medo. - Ele também gostava muito de shorts curtos, mas não gostava de usá-los. - Ou talvez não tivesse coragem. - E, além disso, ele gostava do moço de jeito afeminado que sempre se sentava perto da samambaia que, por coincidência, era perto de seu balcão, mas a religião de sua mãe não gostava desse moço, nem ele, aliás! - ou talvez...
Ninguém parecia assistir ao “Orcatacular Show da Orca Celeste” - quem denominou seu show fora ela mesma. - A Orca Celeste começava a se irritar, pois estava prestes a fazer o seu Duplo Orcwist Carpado e sua platéia estava desatenta.
Havia um moço. - Sim, sentado perto de uma samambaia, numa lanchonete. - Ele gostava muito de samambaias e garotos, mas gostava mais de garotos. Gostava especificamente do garçom daquela lanchonete e de como ele ficava bem no uniforme preto e branco. Ele também evitava o cacoete dos pés, mas não gostava de croissant, pois ficava enjoado rápido. Aliás, por enjoar rápido, ele também não gostava de rosa, nem de golfinhos. - Daqui a pouco talvez nem de garotos e samambaias gostasse mais.
Celeste rodopiava e rebolava. Acompanhava o ritmo da canção dos passarinhos - Ela teve um affair com um, mas é segredo. - A platéia continuava sendo um problema para a coitada, toda cheia de graça e deslumbrante, e aqueles humanos tolos não percebiam como ela era extremamente interessante e atípica.
Num clic mental, o moço sentado perto da samambaia verificou que a blusa do uniforme do garçom marcava seus mamilos e que o garçom tinha uma mania estranha de sempre carregar um terço no bolso da calça. - Aquilo já estava enjoado. - E a samambaia estava verde demais, ou morta demais, ou apenas normal demais. - Aquela samambaia estava o enjoando. O clima da lanchonete também enjoava. - Deve ser por causa do cheiro dos croissants.
O garçom viu o rapaz de jeito afeminado levantar-se atipicamente e ir em direção à saída. - Ele temeu. - E se fosse a última vez que ele viria o amor da sua vida? Digo... - Não digo nada, ele era sim o amor de sua vida. - O medo consumia o garçom, tragava-o vivo.
Porém, num clic, o medo se desfez. Precisava alcançá-lo, dizer o quanto amava quando ele usava aqueles shorts azuis com uma regatinha branca e que não se importava com o que sua mãe iria pensar, por que ele já estava grande o suficiente pra não precisar dela para amar alguém.
A garota que comia o croissant ficou perplexa ao perceber que o garçom se aproximava. Seu coração batia mais rápido. - Ela precisava evitar isso. - Ele tinha um cabelo castanho bonito. - Desejava que seu marido, quando casasse, tivesse o cabelo parecido com o dele. - Ela tremia, ele estava cada vez mais perto de sua mesa! - Olha que ela se sentou na mesa mais afastada do balcão, para evitá-lo.
De repente, um clic. E se ela parasse de olhar para o croissant? Se ela olhasse para o garçom? Só por olhar... Sua família nem precisava saber disso... Ela estava cansada de evitar aquilo. E todas as outras coisas também, mas principalmente aquilo.
Aquele menino na rua percebeu a distração da moça e, num clic, correu para pegar seu desjejum.
Celeste estava deprimida. Havia acabado de fazer movimentos leves e ao mesmo tempo cheios de expressividade no ar e ninguém, absolutamente ninguém, a notou. - Exceto o passarinho, claro - Estava na hora de seu último ato. Olhou para baixo, era a última chance daqueles humanos para notarem-na. Três pontinhos se movimentavam e um havia se levantado, estariam olhando para Celeste? - A orca pegou seu binóculo. - NÃO, NÃO ESTAVAM. - Ela ofegava de ódio, sentia o ódio por todas as partes do seu corpo.
Num clic, ela apertou o gatilho.
Lá vêm vocês de novo! Eu já disse que ela não é assassina.
Ela é, no máximo, suicida.

A gravidade resolveu agir naquela orca, por maldade, por chateação, ou por que um quase-golfinho morto no céu não é tão bonito quanto um vivo.
A orca caía. Não mais celeste, o furo da bala afirmava que seu lugar era no chão -  mais precisamente abaixo do nível do mar, perto de onde dois rapazes, uma moça, um menino e um croissant estavam - perto não, em cima mesmo.
O sol continuava brilhando forte e o passarinho namorava outra passarinha que ele encontrou numa fonte, não muito longe dali.

Senhor Cactus

Um dia eu conheci um cacto. Ele estava lá, parado, contemplando o nada, meio cabisbaixo. Sentei-me ao seu lado.
- Bom dia, Senhor Cactus. - falei.
- Bom dia. - ele respondeu, parecia tímido.
Fiquei tentando olhar para a mesma direção que ele, mas o Sr. Cactus não olhava para direção alguma.
- Está tudo bem? - perguntei.


Ele demorou para responder. Meditou sobre essa questão por algumas horas. Contou seus espinhos, olhou para o horizonte, deu alguns suspiros.
- Eu não sei bem. - Por fim, respondeu.
- Não sabe?
- Não.


Estava quente. O deserto era, de fato, solitário.
- Você fica sempre por aqui, Sr. Cactus?
- Sim.
- Deve ser ruim... Não ter ninguém pra conversar...
O Sr. Cactus deu mais outro suspiro.


- Às vezes algumas pessoas passam... - falou, ainda tímido.
- E você conversa com elas?
- Elas só passam. Falam algumas tolices, me cativam... E passam.
Ele recontou seus espinhos.
O sol subia.


- Eu não vou passar, Sr. Cactus. Não tenho para onde ir. Posso ficar com você?
- Ficar? - ele pareceu hesitar. - Ninguém fica, Lagarta. Você vai arranjar um lugar para ir.
- Mas eu não quero ir.


O sol estava no seu ápice.
- Está quente... - falei.
- Aqui é assim... Muito quente agora, muito frio à noite. Muito sozinho o tempo todo.
- Não me sinto sozinha agora.
- É... Nem eu...
O Sr. Cactus olhou para o horizonte.


- Eu acho que estou com muita sede...
- Sede? Eu não sinto sede. Só de algumas coisas.- havia me esquecido de que ele era um cacto.
- Eu sinto sede de várias coisas, mas agora eu sinto sede de água.
- Hm...
Eu me aproximei.
- Ai! - exclamei de dor.
- O que? O que foi? Te machuquei? - O Sr. Cactus parecia preocupado.
- Foi um espinho, eu não tinha visto...
- Me desculpa... Ando tentando esconder essas coisas... As pessoas não se aproximam por causa delas... Elas têm medo...
- Eu não tenho medo, Sr. Cactus...


O sol ressecava minha pele.
- Você está bem? - Sr. Cactus me perguntou.
- Estou sim.
- O espinho... Ele ainda dói?
- Um pouco, mas daqui a pouco cicatriza.
- Me desculpa...
- Eu não me importo, está tudo bem.


Sr. Cactus pegou um de seus espinhos e se abriu.
- Quer água?


Eu bebi de sua água.


- Ela é tão saborosa, Sr. Cactus. Nunca tinha bebido algo tão bom, parece ser a melhor de todas as águas.
Ele pareceu sorrir.
Anoitecia.


- Aqui é tão frio. - aproximei-me mais do Sr. Cactus.
- Me sinto quente.
- Eu também.


Alguns viajantes passavam, mas o Sr. Cactus não ligou. Ele tinha sua Lagarta. Eu adormeci entre seus espinhos, feliz. O tempo não deveria passar tão rápido.


- Estou com medo...
- Por quê, Lagarta?
- Meu tempo é curto...
Sr. Cactus chorou.


- Quer mais água?
- Sim... - respondi, um pouco fraca.
- Você está bem?
- Nunca me senti tão bem em toda minha vida.


Sr. Cactus já não contava seus espinhos, nem suspirava, nem olhava para o horizonte.


Alguns momentos depois ele suspirou.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Olhos Castanhos - Capítulo 1



A cidade remexia-se rotineiramente. Fortaleza, cinco e quinze. O que eu ainda fazia naquela cobertura? O sol derramava laranja pelo céu, a água da piscina cintilava ternamente e seus olhos castanhos me estremeciam.
Eu preciso sair daqui.
Será que alguém vê o que está acontecendo? Será que meus olhos estão me enganando? Será que tudo faz parte de uma brincadeira da minha mente?
A quem eu quero enganar? Algo com certeza havia mudado.
O ar parecia envenenado e a cada momento a mais que eu me permitia estar aqui, mais meu corpo cedia e se despedaçava. Seus olhos pareciam me manter imóvel, era como se daquela água eu não pudesse mais sair, hipnotizavam-me, enquanto me devoravam voluptuosamente, sem que eu permitisse.
- Amélia, você está bem? - Pedro me perguntou, me tirando daquele transe.
- Hm? - Ah. - Estou... Eu... Eu acho que já vou para casa. Está ficando tarde...
- Tarde? Mas nem escuro está, Amélia! Vamos, fica aqui, minha vida é tão solitária sem vocês. Eu juro que morar sozinha é um saco. - Verônica falou, com aquela voz forte e ácida.
- É que eu prometi estar em casa às seis. Tenho que arrumar umas coisas da mudança...
- Acho que é desculpa viu, ela vai bem se encontrar com aquele tal de Gustavo. - João e seus comentários desnecessários... Mas de fato, nunca estava errado.
- Gustavo é? - Dei um pequeno sorriso -  Nunca conto muito com a presença dele quando eu chamo, mas... Quem sabe né?
Verônica não parecia gostar muito quando o nome dele era mencionado. Gustavo Viana. Conheço-o há uns sete meses e dele ainda digo pouca coisa, por medo de talvez estar errada. Não ouso defini-lo como um rapaz diferente dos outros, mas ele tinha lá o seu charme. De uma forma absurdamente desproposital ele exalava lascívia, e o sorriso dele mantinha qualquer fera ternamente apaixonada, sua voz tinha um timbre viciante, e o seu olhar...- Ah, o seu olhar... - Por vezes, parecia o de um animal que se alimenta da caça - era feroz, vulgar e cheio de satisfação - mas ainda assim ingênuo, como o de um filhote que acabara de nascer e necessita de seu primeiro aleitamento.
Seus olhos também eram castanhos, bem negros. E sua alma era morena-café, parece ter sido feita numa tarde para ser acordada à noite, era envolvente e ativa, mas sabia bem onde cada segredo deveria ser guardado. Ele seria meu namorado, se não fosse meu amante. - E que amante.
- Hm. Pois vá lá ver esse menino. - Disse Verônica virando-se em direção ao deck.
- E-eu posso ficar se quiser... - Não posso.
- Não. Não precisa... - Delicadamente seu rosto passou da repulsa para um sorriso simpático. - Tenho certeza de que qualquer coisa que você for fazer com ele vai ser bem mais proveitoso que passar um tempo conosco né? - E do sorriso simpático, ele foi para um sorriso de provocação -  Afinal, não podemos te dar sexo.
Todos riram, mas não foi lá tão engraçado. De uma forma estranha eu amo e odeio Verônica. De uma forma estranha, eu amo Verônica. Ela tinha motivos para não gostar tanto assim do Gustavo. Meu relacionamento com ele sempre foi sem nome -  era como um gato de rua, que às vezes alimentava-se apressadamente, com medo de alguém ver ou enojar-se, logo após, era como se alguém o adotasse e cuidasse dele com carinho, mas como todo bom gato de rua, logo batia a saudade da adrenalina. - Ele enriquecia meus sentimentos com confusão e paixão e, sinceramente, preferia pensar que era apenas com isso. Verônica Lima achava que ele me usava. Na verdade, ela parecia ter certeza disso.
Ela estava no deck comendo uma carne assada que compramos na churrascaria ao lado, por ninguém saber ao certo como se faz churrasco. Catava as melhores partes com a mão e jogava dentro da farofa, deixando a carne completamente coberta e depois catava de volta para levar até sua boca.
- Essa carne já tá fria, nam.
Saí da piscina e me enxuguei. Observei Verônica, por alguns momentos, repetir aqueles movimentos e parecer também repetir aquela frase mentalmente. Ela estava com um biquíni preto e seus longos cabelos escuros grudavam em suas costas molhadas. Tinha uma pele bem branca e uma tatuagem logo abaixo do seio esquerdo, era uma frase retirada de uma poesia de Cecília de Meireles. - Sei que canto. E a canção é tudo.
Ele até poderia me usar - o Gustavo. - mas eu também o usava. Do corpo dele eu me aproveitava de tudo que me desse prazer. Éramos apenas carne um para o outro. E, diferente aquela que Verônica mastigava, nossa carne era quente, era por si só deliciosa, não precisava de mais nada.
O sol já estava ameno e a lua já sussurrava o surgir da noite. Ventava muito na cobertura. Não conseguia entender como Verônica aguentava aquele frio, - A primeira coisa que quis fazer ao sair da piscina foi me enxugar e vestir minhas roupas. - mas ela estava lá exibindo aquele corpo longo, cheio de constelações - Sinais, de fato - , apoiada no balcão do deck.
- Ei, Vê, acho que vou com a Amélia, deixar ela ir sozinha para a parada é meio perigoso. - João vestia-se e sorria docemente para mim. - E a gente pega o mesmo ônibus de qualquer forma.
- Eu não sei o que vocês tem que gostam tanto de me abandonar. - Verônica sorria. Ela não era do tipo que implorava por carinho, mas, de fato, sentia-se sozinha.
Verônica perdeu o pai há uns dois anos num acidente - sobre o qual ela nunca falou muito - e sua mãe mudou-se para Sobral, não conseguira superar a morte de seu marido
e quis esquecer-se de tudo indo morar junto de suas irmãs. Verônica já estava na faculdade e tinha um bom emprego na capital, não poderia se mudar e atrasar toda a sua vida, mas era notável a falta que sua mãe fazia.
Ela morava, então, sozinha, num apartamento na Avenida Beira Mar, quem pagava o aluguel era sua mãe, que era uma promotora famosa na cidade. Era de um grupo do Theatro José de Alencar, fazia artes cênicas na Universidade Federal do Ceará, e - sei que já era de se esperar - seu sonho era ser uma atriz famosa. Havia feito algumas participações em comerciais, e estrelado com papeis principais em algumas peças, mas seu objetivo era o cinema.  E quando perguntada sobre ser atriz de novela, ela apenas te lança aquele olhar afiado e oblíquo que te corta em mil pedaços - Então você já sabe a resposta.