segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Overkill

Eu estou lentamente sendo estrangulada pelos meus sentimentos. É um desastre. Eu tento pintar minhas unhas, mas minhas mãos tremem. É difícil respirar. A tesoura corta meus dedos. Eu não consigo me limpar. Sangra e sangra. Eu estou sangrando há três dias. São cortes profundos no peito que latejam e transbordam o liquido viscoso e sujo que eu deixo circular dentro de mim. Eu sou humana, que nojento. Eu tenho nojo de mim mesma. O mundo está desmoronando nas minhas costas e eu tento com tanto esforço segurar cada pedaço do que poderia deixar todo mundo feliz. Todo mundo deveria estar feliz. Eu pago as contas em dia, eu não choro na frente de ninguém, eu não digo que estou sentindo dor, eu me desestimulo todos os dias. Eu odeio o que eu faço com tanto desgosto. Todo mundo deveria estar feliz. Eu estou sustentando coisas insustentáveis, eu sou incrível, vejam, todos olhem para mim, eu quero que vocês agradeçam a minha presença hoje, eu quero luzes em mim, eu quero que vocês olhem para essas unhas pintadas, eu quero que vocês olhem minha maquiagem, meu delineador! Eu estou feliz, vejam! Eu pinto meu cabelo, eu danço, eu canto mal, eu me detesto, eu uso roupas bonitas. Todo dia eu escolho o que eu vou vestir. Podem olhar para mim, vocês verão falhas. Eu sou humana. Um grande pedaço de lixo ambulante. Ninguém vai me agradecer por eu fazer minhas obrigações. Eu estou tão presa na minha própria situação. Eu queria fugir, mas fugir é desistir. Meu deus, eu queria tanto desistir. É tão ruim acordar. Eu sou uma pobre coitada, que tristezinha eu sou, meu deus, olha toda essa atenção que eu quero chamar, tão pobrezinha, tão estúpida. Eu sou tão ridícula. Eu menti, eu não consigo mais fazer nada. Eu apenas fico sentada, olho para tudo e fico atônita. Eu estou em pânico. É uma sala branca sem porta nem janela. Tudo o que eu vejo são meus orgãos internos pulsando fora de mim. Cada um apodrece lentamente. E dói, dói muito, é uma dor tão grande. Ela não é física, mas dói tudo. Tudo dói.
Eu passo muito tempo mantendo minha mente longe da realidade. A realidade é um monstro. Ela é o meu bichinho de estimação que me odeia. A realidade se alimenta de mim. E eu (por que eu sou bastante estúpida) insisto em me alimentar dos meus sonhos. E (droga) eu estou morrendo de fome. Existe sempre alguém pra me lembrar que nada do que eu consegui foi por que eu mereci. Existe sempre alguém que vai me dizer que meus sonhos são egoístas demais. Eu quero uma casa. Sim, eu quero. Quero ficar só. Tão só de uma maneira que eu nunca fiquei só. Eu amo tanto ficar só. Eu odeio tanto ter que ficar só pra ser menos miserável. Eu me lembro de um dia que eu estava tão longe de casa e tão feliz. Mas eu estava tão longe de casa e tinha tanta gente ao meu redor que eu fiquei aterrorizada. Eu só queria ficar só, muito só. E era constrangedor me ver nessa situação. Eu estava triste, mas eu estava tão feliz. Eu só queria um tempo em que ninguém me visse, queria chorar desesperadamente por nenhuma razão. Eu queria chorar desesperadamente por que eu estava cercada de pessoas que eu observava e que me observavam. Foram alguns dias estranhos que passei. Todo dia é difícil, alguns são menos.
Eu continuo sentada olhando para os lados. Não existe lugar para ir? É isso? Mas eu sou tão forte, porra. Eu vou dar um soco na parede e vou sair correndo.

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