quarta-feira, 21 de agosto de 2013

"Caso você recebesse um prazo, como iria vivê-lo?"

Ela havia escrito cartas. Sentada no chão, envelopava cada uma com carinho singular. Delicadamente dobrava o papel branco e colava os selos. Hoje seria o dia que as estrelas a levariam para onde ela sempre pertenceu.
Lá fora nevava. “Será que elas vão conseguir vir me buscar nesse frio?”, pensava ela.
A caneca com chocolate quente fazia manchas circulares no soalho.
“Ainda bem que o natal já passou.”
Ela chorava de pouquinho.
Queria que as palavras tivessem movimento, que dançassem, que pudessem brincar de pega-pega e esconde-esconde, queria que elas cochichassem ao pé do ouvido, que tivessem cheiro e sabor… Mas, palavras precisam de cuidado, senão são tão frias quanto os flocos que caíam lá fora do céu.
Um rato cavocava a parede.
Ai ai ai...”, é sempre difícil se levantar sentindo dor. Ela se dirigiu à sua cama desarrumada e deitou-se com cuidado.
As cartas no chão cantavam baixinho, sem ela perceber.
Por alguns meses esquecida por todos, agora ela sabia que ninguém sentiria tanto a sua falta, quando o fim permanente chegasse.
O maior medo dela era do fim ser mesmo permanente.
A leve cantoria atraía as estrelas para mais perto, da janela observavam o lento adormecer da menina.
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Naquela noite, ninguém viu, mas surgiu mais uma estrela no infinito.

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