segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Gotas

Ela mergulhou naquele mar prata. Imersa, consumia o ar guardado nas bochechas e pulmão. Até onde poderia ir? Por quanto tempo? Todo o seu corpo estremeceu de curiosidade. E se deixou afogar. Dentro de sua mente, a imensidão se abria. Com nós na garganta, a noite engolia-a. Dificultosamente, entre lágrimas, o oceano vomitava espumas na areia. De longe gritavam seu nome, o som chegou numa onda surda. Aos poucos perdia sua solidez, dissipando-se de dentro para fora. Tornando-se mais um pedaço daquele mar.
Cada partícula sua agora começava a se acalmar. Num dia passado, longe deste universo, ela sonhara ideias de açúcar, com pessoas de algodão - como naquela música - e amores com cheiro de chá de capim santo, que lentamente não iam mais fazendo sentido algum. A água com sal diluía sua vida de pouquinho, começando pelas narinas e boca, descendo pela garganta, chegando aos pulmões cansados da fumaça de cigarros que ela não fumou.
A cor preferida dela era o azul, o animal favorito, o pássaro. Amava dias chuvosos e o aconchego de abraços carinhosos. Tinha um sorriso lindo, uma alma doce como seus sonhos e uma inquietude particular no coração.
Gritos, lágrimas e desespero preencheram aquela noite cheia de vazios. Antes que tudo fosse consumado, num sussurro inaudível, tudo o que era para ter sido dito outrora, foi, neste instante, proferido. E a praia, agora, tem o som tímido de declarações de amor.

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