sexta-feira, 5 de julho de 2013

Precisado

Eu precisava de mais um gole amargo do vinho barato.
Eu precisava de mais uma dose intragável daquela pinga incolor.
Precisava dum pedaço daquele pão dormido
Duma tragada daquele cachimbo
Dum beijo do garçom
Precisava do algo mais debruçado na mesa redonda
Eu precisava daqueles panos sujos
Eu precisava me limpar os vômitos
Precisava catar os queijos do esgoto
Comê-los, deliciar-me
Precisava de uma cédula
De um corpo retirar algum dinheiro
De uma arma, arranjar um corpo
Daí então retirar o algum
E ao garçom pedir mais uma rodada daquilo
Daquilo que nem sei mais o nome
Mas de todos aquilos, parecia ter o melhor sabor.


A visão começou a tresloucar
Sussurraram três tiros
Na pele, o sangue nem queria escorrer
O sorriso deu uma risada
Fechou-se a conta
Quantas doses de bebidas amargas pagam meu erro?
Alguém gritou uma prece
Não rezem perto de mim.
Precisava agora de novo daqueles panos sujos
Precisava do algum
Alguém chame um médico!
Desculpe, garçom, foi bom enquanto durou
Mas meu coração foi atingido
Oh, você não é meu garçom
Não me aperte assim,
O que você está fazendo?
Garçom?
Mova-me, mas não queira me retirar.


Trocaram-me a blusa
A estampa rubra formava-se
Numa veste semelhante à minha
Contudo, trocaram-me
Pouco tempo depois a luz pálida cegou-me
Chegou-me meia-noção
De fato, a blusa era minha.


Soantemente o delicado barulho da vida irritava-me
Os bipes gritavam na minha enxaqueca
A ressaca entorpecida com alguns tubos engraçados
Estendido estava lá eu
Taciturno, semi-vivo
Mil homens banhados de luz
Estendiam ao meu peito bisturis e agulhas
Entendiam o meu coração, será?
Quase lembro-me da sensação
Era como se apaixonar
Que droga.

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